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Publicado em 17/08/2020

A masculinidade saudável no combate à violência contra mulher

Neste mês, a Lei Maria da Penha completa 14 anos de existência, um importante símbolo no combate à violência contra mulher, e uma oportunidade para reflexão sobre o papel do homem contemporâneo sobre este tema. Este significativo instrumento jurídico para promoção dos Direitos Humanos, estabeleceu que todo caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime, e deve ser apurado por meio de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público.

A Lei Maria da Penha considera que existem várias tipificações de violência que são praticados contra as mulheres. As mais comuns são: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Os agressores podem receber pena de detenção, o que na prática pode ser um fator de dissuasão. Mas será que somente a ideia de punição é suficiente para coibir este tipo de crime?

Infelizmente, quase uma década e meia depois, os números dizem que não. Apesar de ser uma ferramenta poderosa, os crimes relacionados à violência doméstica e feminicídio ainda são altos no Brasil, como apontam o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019 e o Mapa da Violência Contra a Mulher de 2018.

Para além das punições – detenção ou medidas socioeducativas –, é preciso entender o que leva um homem a agredir uma mulher ou um membro da própria família. Essa discussão passa por conhecer os malefícios da masculinidade tóxica, e como ela também prejudica os próprios homens.

A masculinidade tóxica nada mais é do que uma série estereótipos machistas transmitidos aos homens há milênios. Estes devem ser autossuficientes, provedores, competitivos e agressivos. Jamais podem demonstrar sentimentos, medos ou ter qualquer traço de delicadeza.

Estas crenças equivocadas atrapalham a saúde mental, física e emocional, aspectos da vida que homens costumam negligenciar, por causa do machismo. Por exemplo, segundo o Datafolha, em pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia, 21% da população masculina acima de 40 anos não faz o exame de toque retal, essencial no diagnóstico do câncer de próstata, por não considerar “coisa de homem”.

Os homens brasileiros também não cuidam da saúde mental como deveriam. Como aponta o Mapa da Violência Flacso Brasil, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). De acordo com este estudo, eles se suicidam quase 4 vezes mais do que as mulheres. Em muitos casos, homens agressores foram vítimas das mesmas violências que perpetraram na vida adulta.

Surgida no meio acadêmico, em especial na área da Psicologia, a ideia de uma masculinidade saudável é um tema relativamente novo. Mas, que na última década ganhou força dentro de diferentes segmentos da sociedade. Ela é a revisão dos conceitos sociais e comportamentais do homem, enquanto indivíduo e cidadão, que visam a desconstrução de estereótipos hegemônicos do gênero para criar uma conexão mais equilibrada, permitindo o alcance de novas perspectivas, atitudes e relações mais saudáveis consigo mesmo e com a sociedade.

Se as mulheres foram pioneiras na discussão de gênero, hoje já existem grupos, associações e organizações, que discutem o papel do homem contemporâneo e qual a melhor maneira de exercer a masculinidade saudável no dia a dia.

Em 2019, a Secretaria de Desenvolvimento Social promoveu o 1º Seminário Estadual Sobre Masculinidades, nele se discutiu a violência social e as relações de gênero, a partir do conceito de masculinidades, e as experiências exitosas de iniciativa do poder público e da sociedade, que promovam na sociedade uma cultura de paz.

Neste processo de construção de ressignificação da masculinidade, as mães e os pais também têm papel fundamental na criação de filhos com valores contemporâneos. Por exemplo, meninos devem ser ouvidos sobre suas frustrações, medos e alegrias. Outro ensinamento fundamental, é o respeito por todas as pessoas, sem distinção de gênero, orientação sexual, cor ou classe social. Estas são premissas para que no futuro eles venham a ter relacionamentos saudáveis.

Esta é uma mudança de mentalidade que começa agora, entre os homens adultos da atual geração, mas deve ser repassada aos garotos que os substituirão no futuro. Para isso, a nova geração deve ter referências masculinas positivas até chegar a vida adulta.

O princípio que devemos ter nesse processo de mudança de mentalidade é reconhecer o valor da integridade humana e a vida de todos. A cada ano que comemoramos a (sanção) da Lei Maria Penha, vamos observando avanços. Isto nos ajuda, enquanto sociedade, a superar essa cultura de violência proporcionando cada vez mais uma cultura de paz.

O fim da violência contra mulher passa, sem dúvida, pela construção de uma masculinidade saudável.

Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo 

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