Como podemos ajudar você?
Publicado em 09/11/2020

David Campos, dos sebos à direção da EDESP

David Campos, dos sebos à direção da EDESP

Nascido e criado na Cohab II, no bairro de Itaquera, zona leste da capital paulista, David Campos (foto) é um apaixonado por literatura. Seu amor pelos livros o levou a ser conhecido como “intelectual dos sebos”, por um jornal comunitário paulistano.

Por 10 anos, David trabalhou em diversos sebos e livrarias de São Paulo. Além de encontrar livros raros, que os clientes buscavam, também dava dicas nas dissertações acadêmicas dos estudantes que o procuravam.

Filho de mãe diarista e pai motorista com problemas com o consumo de álcool, ele precisou batalhar para seguir firme nos estudos. Conseguiu graduar-se em três cursos superiores, o primeiro em Teologia, depois Sociologia, e por fim Gestão de Políticas Públicas. É o caçula de três irmãos e aprendeu a valorizar e a cuidar da família desde cedo.

Hoje, David é Diretor Executivo da Escola de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (EDESP), responsável por executar programas de capacitação, aprimoramento e treinamento profissional na rede socioassistencial.

Em comemoração ao Mês da Consciência Negra, o diretor da Edesp, David Campos, é o personagem da série “Histórias que Inspiram” de novembro. Nesta entrevista ao Departamento de Comunicação da SEDS, ele contou sua trajetória, dificuldades e conquistas ao longo da vida.

Qual é a influência da sua família na sua vida?

Aprendi a gostar de política com a minha irmã Maria Albertina; com minha outra irmã, Maria Aparecida, aprendi o esforço e a vontade de avançar, mesmo diante de preconceitos.

Com minha mãe, aprendi a ser forte e resiliente diante das dificuldades e humilhações. Ela me ensinou a perseverança e com meu pai, a lutar pela família por meio do suor de trabalho e a ser cristão católico.

Minha família encontrou equilíbrio na religião, nos levando a ter certa centralidade, o que me ajudou muito, principalmente no sentido de me manter longe do vício e da criminalidade.

No seu ambiente familiar, você sempre teve apoio para estudar e ter uma carreira?

Minha família, no geral, sempre me apoiou muito. Minha irmã, Maria Albertina, inclusive dava aulas de reforço para crianças na nossa casa, também como uma forma de tentar ajudar a família e eu sempre participava.

Meu pai, por exemplo, me incentivou a entrar no Senai. Estudei e passei para Mecânica de Automóveis e me formei lá, mas ainda assim, tive dificuldade de conseguir emprego como mecânico. Comecei então a consertar carros de amigos para conseguir dinheiro e foi difícil, pois nem sempre tinha as ferramentas.

Eu fui a primeira pessoa da minha família a entrar em uma universidade. No Mackenzie, onde fiz Teologia, por uma questão religiosa, passei entre os 55 primeiros colocados que estudaram em escola pública. Minha irmã Maria Aparecida estava comigo quando passei e até chorou quando chegou na universidade; foi a primeira vez que ela pisou em uma.

Quando começa a sua trajetória profissional?

Quando entrei no Mackenzie, eu fiquei procurando emprego e me apareceu uma oportunidade de estágio e eu não tinha nem sapato para ir. Me lembro que no dia da entrevista, me perguntaram se eu sabia digitar e eu não sabia o que era isso, então o professor que estava me entrevistando fez um gesto com as mãos e eu disse: “Ah, datilografar?”, pois eu nunca tinha tido nem contato com um computador. Mesmo assim, consegui a vaga.

Durante a faculdade, eu pensei ainda em ser pastor, mas não deu certo. Então após o meu estágio, um conhecido me indicou para trabalhar em sebo e livraria, onde fiquei por cerca de 10 anos e foi assim que eu consegui ajudar a minha família. Foi quando eu fiz um curso de biblioteconomia. Isso fortaleceu meu contato com a literatura, o que incentivou a cursar Sociologia.

Nós estamos no mês da Consciência Negra. O que o Dia da 20 de novembro simboliza para você?

É muito importante tratar da questão racial no Brasil, que ainda hoje tem uma grande lacuna quando diz respeito à cidadania e lembrar que existe um problema e que precisa ser enfrentado, combatido de frente, para que nós possamos ter uma sociedade mais igualitária e justa.

É muito mais difícil, para um negro, provar suas habilidades e por isso, sou muito grato à SEDS por ter confiado nas minhas competências.

Qual é a importância da Edesp na construção da sociedade?

A Edesp é extremamente importante na formação dos trabalhadores da rede socioassistencial, que são responsáveis pela entrega dos serviços, para os bens públicos da sociedade.

A Edesp qualifica esses serviços e traz a dignificação do trabalho, a partir do momento que o trabalhador se apropria desse processo e entende sua importância, de modo que esse usuário passa a ser visto como uma pessoa portadora de direitos.

Hoje, o que você leva da sua juventude?

Eu fiz Mackenzie, fiz Sociologia, fiz Gestão Pública, mas eu não faria nada disso se não fosse meu pai, com a coluna torcida e não deixando de trabalhar, se não fosse minha mãe limpando casa de famílias. Eu não seria o que sou hoje, se não fossem as minhas irmãs Maria Albertina e Maria Aparecida, e meu primo Jorge, que considero como um irmão, que quando esteve preso me aconselhou a não repetir os mesmo erros que cometeu.

Por isso, peço para que ninguém desista dos estudos e dos sonhos. Nós somos resultados de uma série de fatores sociais e não apenas individuais.

Não deixe que o olhar preconceituoso das pessoas atrapalhe a sua caminhada.

Assuntos

Desenvolvimento | Gestão | Habitação | Infraestrutura | Secretaria da Habitação | Secretaria de Desenvolvimento Regional | Secretaria de Desenvolvimento Social